24/09/2024
A importância da leitura foi um dos temas discutidos pelo poeta e professor Paulo Britto em bate-papo no IMPA Tech nesta terça-feira (24). A partir do seu trabalho “Oficina de criação poética”, Britto conduziu uma conversa sobre literatura, linguística e tradução. O convite foi feito pela professora Cilene Rodrigues, como parte das atividades da disciplina “Construção de Narrativas Textuais”.
“O trabalho coletivo é muito importante, tem pessoas que somam e foi isso que eu encontrei em colegas como o Paulo Britto. Um grande profissional que marca a academia e que marca o nosso dia a dia. Eu procurei trazer o Paulo aqui porque, de fato, é uma pessoa que enriquece a nossa coleção. Apreciem e aproveitem o momento”, disse a professora na abertura da conversa.
O poeta português Fernando Pessoa teve parte da sua obra analisada por Britto durante o papo-papo. A discussão principal girou em torno dos textos do heterônimo do escritor Ricardo Reis. A análise envolveu composição de rimas, ritmo, estrutura e até a disposição das consoantes nos versos.
“Demorei vinte anos para entender esse poema. Estou lendo este texto desde os meus 15 anos de idade e ainda descubro coisas sobre ele”, compartilhou Britto.
O destaque dado à estrutura dos poemas acompanha um princípio pessoal e de trabalho que leva à análise dos textos muito além da semântica. “A ideia é examinar por completo um texto e encontrar semelhanças e diferenças. É preciso fazer uma leitura atenta do poema. Às vezes, o texto é bom e o ritmo pode ser a única coisa que interesse, por exemplo. O poema é uma mistura de sons, ritmos, repetições, trabalho em vários níveis.”]
A relação entre poesia e matemática também foi tema da conversa. “Fazer matemática e escrever poesia têm coisas em comum”, disse. Para ele, a ‘síntese’ é um ponto de encontro interessante entre as áreas, útil nas resoluções de problemas matemáticos e na transmissão de ideias pela poesia.
“Os matemáticos costumam comentar sobre a dedução, ou seja, o mais simples é o mais belo. A poesia tem isso na síntese, que é uma das almas da poesia. Eu acho que tem tudo a ver. A concisão é muito importante, a prova mais bela, mais elegante é aquela que envolve menos símbolos, menos linhas. E a poesia lírica, por exemplo, prima pela concisão. Você manipula uma série de elementos básicos, no plano do som, do sentido e aí quando você consegue com o mínimo de elementos fazer uma coisa muito boa isso tem um valor extraordinário”.
Lucia Soares, 19 anos, graduanda do IMPA Tech, acompanhou o bate-papo e formou um novo olhar sobre a poesia. “Eu achei a aula super interessante. Foi completamente diferente do que eu esperava. A gente teve uma visão que, pelo menos pra mim, foi nova. Uma visão sobre como a poesia é feita, é organizada. Sabemos que os versos são métricos, aquilo que aprendemos na escola, mas aqui tivemos uma visão de que a poesia não é só aquilo que a gente está vendo, aquilo que está escrito. Não é só uma partezinha, é uma coisa muito maior e que envolve muita coisa. A aula foi incrível, eu realmente gostei muito.”
Carioca, Britto teve uma formação acadêmica variada, com passagem da matemática ao cinema, para enfim chegar à linguística. Hoje, é professor de Língua Inglesa e Portuguesa na PUC-Rio.
A carreira como poeta começou em 1980, com o texto “Liturgia da matéria”. Entre as obras mais prestigiadas, estão “Macau”, publicada em 2003. O livro rendeu o prêmio Portugal Telecom de literatura brasileira, em 2004.
Também tradutor desde 1971, Britto compartilhou experiências de um ofício que já conta com 120 livros traduzidos. Entre eles, muitos de autores renomados como Lord Byron, Emily Dickinson e Charles Dickens. O poeta afirmou que o “background” é importante. “Eu quero ler os poemas com todo o meu background. É importante se abrir ao novo, mas não jogar fora o que já construiu”, contou.
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